quinta-feira, 1 de maio de 2014

SURDOCEGUEIRA  e DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA

    Fazendo um contraponto do que é deficiência múltipla e surdocegueira podemos encontrar terminologia e conceitos que podem elucidar para o atendimento e peculiaridade das mesmas. Conforme Lagati (1995, p.306,) à

Surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla são multiplicativos e não aditivo.

Para McInnes (1999), a premissa básica é que a surdocegueira é uma deficiência única que requer uma abordagem específica para favorecer a pessoa com surdocegueira e um sistema para dar este suporte.

SUBDIVISÃO DA SURDOCEGUEIRA

Em quatro categorias:
·         Indivíduos que eram cegos e se tornaram surdos;
·         Indivíduos que eram surdos e se tornaram cegos;
·         Indivíduos que se tornaram surdocegos;
·       Indivíduos que nasceram ou adquiriram surdocegueira precocemente, ou seja, não tiveram a oportunidade de desenvolver linguagem, habilidades comunicativas ou cognitivas nem base conceitual sobre a qual possam construir uma compreensão de mundo.

TIPO DE SURDOCEGUEIRA
A surdocegueira pode ser:
·         Congênita
·         Adquirida

CONGÊNITA: Denomina-se surdocego congênito quem nasce com esta única deficiência, como por exemplo pela rubéola adquirida no ventre da mãe.

ADQUIRIDA: A surdocegueira adquirida é quando a pessoa nasce ouvinte, vidente, surda ou cega e adquire, por diferentes fatores, a surdocegueira.

McInnes (1999) relata que muitos indivíduos com surdocegueira congênita ou que a adquiram precocemente têm deficiências associadas como: físicas e intelectuais. Estas quatro categorias podem ser agrupadas em Surdocegos Congênitos ou Surdocegos Adquiridos. E dependendo da idade em que a surdocegueira se estabeleceu pode-se classificá-la em Surdocegos Pré-lingUísticos ou Surdocegos Pós-lingUísticos.

CARACTERÍSTICAS DA SURDOSEGUEIRA

Algumas pessoas com surdocegueira são retraídas e isoladas, apresentam dificuldades para se comunicar, não demonstram curiosidade e motivações básicas, normalmente apresentam problemas de saúde que acarretam sérios atrasos de desenvolvimento, não gostam do toque das pessoas, não conseguem se relacionar com as pessoas, encontram dificuldades de habilidade com a alimentação e com a rotina do sono, têm problema de disciplina, atrasos no desenvolvimento social, emocional e cognitivo e o mais importante, desenvolvem estilo único de aprendizagem.


A APRENDIZAGEM DAS PESSOAS COM SURDOCEGUEIRA

Relacionamos a seguir o que Mc Innes (1999) refere sobre a aprendizagem de pessoas com surdocegueira: indivíduos com surdocegueira demonstram dificuldade em observar, compreender e imitar o comportamento de membros da família ou de outros que venha entrar em contato, devido à combinação das perdas visuais e auditivas que apresentam. Segundo Ayres (1982) a defesa tátil é a forma como a criança experimenta e reage de maneira negativa e emocionalmente às sensações do tato.
 

RECURSOS ESPECÍFICOS PARA AS PESSOAS COM SURDOCEGUEIRA

Línguas de sinais e intérprete: é o meio de comunicação mais comum utilizado, se a pessoa nasceu surda a primeira língua aprendida é a dos sinais (LIBRAS). Com o campo da visão reduzido o surdocego interpreta os sinais por meio dos movimentos do interprete que por sua vez, faz também um segundo papel: o de guia ou o chamado guia-intéprete, o qual necessita conhecer várias formas de comunicação.
É imprescindível para uma melhor locomoção, que o surdocego passe pelos treinamentos dos Programas de Orientação e Mobilidade (O.M). Treinamentos pelos quais passam pessoas com cegueira congênita ou adquirida, tendo como principal característica o uso da bengala.



Braille: é um recurso utilizado pelas pessoas com cegueira para desenvolver a escrita e a leitura pelo tato. Para tanto são usados recursos materiais como: reglete, punção, máquinas braille  e soroban.
 Alfabeto Dacticológico: é o uso do alfabeto manual, em alguns casos, já utilizados pelos surdos. O interlocutor faz a letra na palma da mão da pessoa surdocega. Cada letra corresponde a uma posição dos dedos.





Tablitas de comunicação: é um meio de comunicação feito de plástico resistente com letras em relevo, números ordinários e caracteres em braille. A pessoa com surdocegueira, coloca o dedo indicador nas letras estabelecendo a comunicação.





Diálogo (fala escrita): consiste na utilização de uma máquina braille, máquina de escrever eletrônica, um gravador e uma linha telefônica. O surdocego escreve na máquina e o texto é impresso, assim, o vidente lê e utiliza a mesma forma para escrever e assim está estabelecida a comunicação.



 CCTV: é um ampliador de imagens que visa auxiliar a pessoa que tem um resíduo visual muito pobre a ler e escrever, o CCTV amplia em até sessenta vezes o tamanho da figura.






Tellethouch – Este aparelho tem teclado de uma máquina braille e um teclado normal. O teclado braille assim como o teclado normal levantam na parte de trás do aparelho uma pequena chapa de metal, a cela braille, uma letra de cada vez. É um dos principais meios de interação do surdocego com outras pessoas. Ao interlocutor do surdocego basta saber ler. Sabendo ler precionará as teclas normais da tellethouch como se estivesse redigindo um texto escrito qualquer.

Letras de forma: Esta é a forma mais simples de comunicação para a pessoa com surdocegeuira. Neste caso, é preciso que o interlocutor saiba as letras maiúsculas do alfabeto. O dedo indicador funciona como uma caneta e o interlocutor escreve na palma da mão do surdocego.


Tadoma: Consiste na vibração da fala do interlocutor. A pessoa surdocega, coloca as mãos na face do interlocutor próxima à boca e sente a vibração da fala. É preciso muito treino e prática da pessoa surdocega para estabelecer comunicação utilizando este método.

DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA

São consideradas pessoas com deficiência múltipla aquelas que "têm mais de
uma deficiência associada. É uma condição heterogênea que identifica diferentes grupos de pessoas, revelando associações diversas de deficiências que afetam, mais ou menos intensamente, o funcionamento individual e o relacionamento social" (MEC/SEESP, 2002).

Segundo Orelove e Sobsey (2000) as pessoas com deficiência múltipla são indivíduos com comprometimentos acentuados no domínio cognitivo, associados a comprometimentos no domínio motor  ou no domínio sensorial ( visão ou audição) e que requerem apoio permanente, podendo ainda necessitar de cuidados de saúde específicos.
A deficiência múltipla é uma condição que resulta de uma etiologia congênita ou adquirida. Esses mesmos autores referem ainda que não se trata da somatória de deficiências. Segundo Nielsen, é difícil para uma pessoa lidar com uma deficiência se seus recursos são insuficientes por outra deficiência. E que devemos pensar, no caso de uma pessoa cega com déficit intelectual, que é uma pessoa deficiente cuja cegueira esta multiplicada pelo déficit de inteligência. A autora diz ainda que quanto maior for o numero de deficiências, maior o risco da pessoa não conseguir fazer uso de todas as habilidades que possui e, assim sendo, a associação de diferentes problemas resultará em necessidades educacionais únicas.




Etiologias da deficiência múltipla
• Pré-natais:
Eritroblastose fetal (incompatibilidade RH), microcefalia, citomegalovírus, herpes, sífilis, AIDS, toxoplasmose, drogas, álcool, rubéola congênita. Síndromes como, Charge, Lennox-Gaustaut entre outras.

• Peri-natais:
Prematuridade; falta de oxigênio, medicação ototóxica, icterícia.

• Pós-natais:
Efeitos colaterais de tratamentos como: oxigenoterapia, antibioticoterapia, Acidentes, sarampo, caxumba, meningite, diabetes.  Aparecimento tardio de características de síndromes como distúrbios visuais na Wolfram, Usher e Alport (Retinose Pigmentar). Podem ser acrescentadas situações ambientais causadoras de múltipla deficiência, como acidentes e traumatismos cranianos, intoxicação química, irradiações, tumores e outras.

NECESSIDADES DA PESSOA COM MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA

De acordo com Nunes (2002), podem ser agrupadas em três blocos:

Necessidades físicas e médicas, como por exemplo:
·         A mais freqüente causa da deficiência múltipla é a Paralisia Cerebral, que compromete a postura e a mobilidade. Os movimentos voluntários são limitados em termos qualitativos e quantitativos.
·         Limitações sensoriais (visual e auditiva)
·         Convulsões
·         Controle respiratório e pulmonar
·         Problemas com deglutição e mastigação
·         Saúde mais frágil com pouca resistência física


Necessidades emocionais de:
·         Afeto
·         Atenção
·         Oportunidades de interagir com o meio e com o outro
·         Desenvolver relações sociais e afetivas
·         Estabelecer uma relação de confiança

Necessidades educativas devido a:
·         Limitações no acesso ao ambiente
·         Dificuldades em dirigir atenção para estímulos relevantes
·         Dificuldades na interpretação da informação
Dificuldades na generalização

RECURSOS PARA A APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIAS MÚLTIPLAS.

OBJETOS DE REFERÊNCIA

São objetos que têm significados especiais, os quais têm a função de substituir a palavra e, assim, podem representar pessoas, objetos, lugares, atividades ou conceitos associados a eles, segundo e Maia et al (2008).

OBJETOS DE REFERÊNCIA DAS ATIVIDADES

Um boné, por exemplo, pode ser, para um aluno com surdocegueira, um objeto que antecipa a atividade de orientação e mobilidade.


Objetos de referência das atividades.
Na mesa do aluno, estão os objetos de referência que representam e antecipam as atividades do dia: boné (orientação e mobilidade), xícara [hora do lanche], creme e escova para sensibilização (estimulação tátil) e escova e pasta de dente (hora da higiene bucal) e bola de plástico (hora da recreação) (Fonte: Ahimsa, 2003).

    
Objetos concretos colados em placas de madeira (escova de dente, chaveiro,
miniatura de uma jarra, saboneteira e
peça de um jogo) (Fonte: Ahimsa, 2003).
Uma escova de dente qualquer (que não é a mesma que a pessoa com surdocegueira utiliza para escovar os dentes) permite simbolizar aquela que é usada para fazer a higiene bucal, a esta ação chamamos de objeto de referência desnaturalizado.A criança precisa internalizar e perceber que se pode dar nome a tudo, tornando sua comunicação mais simbólica.








REFERÊNCIA: 

BOSCO, ISMÊNIA C. M. G.; MESQUITA, SANDRA R. S. H.; MAIA, SHIRLEY R. A EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO ESCOLAR - FASCÍCULO 05: SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA. – COLETÂNEA UFC-MEC/2010. • IKONOMIDIS, VULA MARIA APOSTILA SOBRE “DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA SENSORIAL”,2010 SEM PUBLICAR .

IKONOMIDIS, VULA MARIA APOSTILA SOBRE “DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA SENSORIAL”,2010 SEM PUBLICAR.

MAIA, SHIRLEY RODRIGUES. ASPECTOS IMPORTANTES PARA SABER SOBRE SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA. SÃO PAULO, 2011.


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